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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Leite derramado de Chico Buarque

"E simbolicamente fiz gravar seu nome no jazigo que minha mãe mandara erigir para meu pai, conforme projeto de um escultor funerário genovês. Ali mamãe também seria sepultada, assim como o meu bisneto, e eu mesmo tinha uma gaveta reservada para quando Deus me chamasse. Mas da última vez que foi ao cemitério São João Batista, no lugar do jazigo dos Assumpção encontrei um monstrengo de mármore lilás, habitado por um defunto com nome de turco.Foi crueldade da minha filha, se ela vendesse o nosso apartamento em vez da sepultura, eu me acharia menos desalojado."

Sugestão de leitura de leite derramado de Chico Buarque:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2010/11/leite-derramado-chico-buarque.html

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Banqueiro Anarquista de Fernando Pessoa sobre o que vai acontecer à Libia

Sobre o que vai acontecer na Libia:

"Um regímen revolucionário, enquanto existe, e seja qual for o fim a que visa ou a ideia que o conduz, é materialmente só uma coisa – um regímen revolucionário. Ora um regímen revolucionário quer dizer uma ditadura de guerra, ou, nas verdadeiras palavras, um regímen militar despótico, porque o estado de guerra é imposto à sociedade por uma parte dela – aquela parte que assumiu revolucionariamente o poder. O que é que resulta? Resulta que quem se adaptar a esse regímen, como a única coisa que ele é materialmente, imediatamente, é um regímen militar despótico, adapta-se a um regímen militar despótico. A ideia, que conduziu os revolucionários, o fim, a que visaram, desapareceu por completo da realidade social, que é ocupada exclusivamente por fenómenos guerreiros. De modo que o que sai duma ditadura revolucionária – e tanto mais completamente, sairá, quanto mais tempo essa ditadura durar – é uma sociedade guerreira de tipo ditatorial, isto é, um despotismo militar. Nem mesmo podia ser outra coisa. E foi sempre assim."


domingo, 21 de agosto de 2011

Ilha Teresa - Richard Zimler

            Há vinte e um anos a viver na cidade do Porto, Richard Zimler nasceu em 1956 em Roslyn Heigts, Nova Iorque. Actualmente lecciona Jornalismo na Universidade do Porto. Em 2002 obteve a nacionalidade portuguesa. Publicado em 2009, “Os Anagramas de Varsóvia” foi considerado pelo jornal Público um dos vinte melhores livros da década.
            Teresa é uma adolescente que vai viver para a América. Longe do seu país, demora algum tempo a aprender a dominar a língua inglesa. O seu pai morre pouco tempo depois de chegarem aos Estados Unidos. Tem uma relação bastante complicada com a mãe, que atraída pela sociedade de consumo torna-se bastante consumista e negligente. Pedro, o irmão mais novo, e Angel, um brasileiro de dezasseis anos, são os seus únicos amigos. Teresa vê-se assim “rodeada de água” vivendo na sua pequena ilha sentimental. (“Vamos lá a ver as coisas como elas são: ter quinze anos num país estrangeiro e não ter lado nenhum para onde fugir significa estar naufragada na nossa própria ilha deserta, a milhares de milhas de qualquer sítio onde pudéssemos estar.”). Teresa não consegue fazer novas amizades, na escola vê o seu amigo Angel ser descriminado por ser gay, o seu estado depressivo leva-a a consumir bastante vodka. Pensa em suicidar-se, mas Pedro antecipa-se a si. Enquanto o irmão melhora no hospital, Mickey, amigo do seu pai, revela-lhe o seu segredo: “ de um dia para o outro vi-me na casa pia”…”tinha nove anos quando aquilo começou”…”vendiam-me a homens fora do orfanato por uma noite de cada vez”.
            A revelação que Mickey faz, transforma completamente esta obra e dá-lhe um outro sentido, pois também aqueles adolescentes da Casa Pia viveram ou vivem numa “Ilha Teresa”
            Boa leitura…

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Albert Camus - O Estrangeiro

Camus foi um dos homens “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”. “O Estrangeiro” é apontado por muitos como um dos maiores marcos literários do século XX. Em 1957, quinze anos após a publicação do livro, a Academia Sueca distinguia-o com o Premio Nobel da Literatura, na altura o Argelino tinha apenas quarenta e quatro anos.
 “Meus senhores, um dia depois da morte da sua mãe, este homem tomava banhos no mar, iniciava relações com uma amante e ia rir a gargalhada num filme cómico” mas não fica por aqui o absurdo ou a falta dele desta personagem, pois antes da morte da sua mãe, também não ia visita-la ao lar, pois ocupava-lhe o Domingo. Quem ficou aborrecido com a morte da mãe foi o seu patrão, não por uma razão sentimental, mas porque lhe tinha que dar dois dias. Aceita casar com Maria, mas respondeu “que tanto lhe fazia”, acaba por não casar, pois matou um árabe e por não ser casado com ela, os guardas não queriam que Maria o visse na prisão. No julgamento, que tem uma forte divulgação, pois os jornalistas tiveram que aproveitar a história pois não havia melhor, o que acaba por chocar mais o juiz é o facto de não acreditar em deus. A sentença, essa poderia ser diferente, se fosse dada a outra hora do dia, mas foi dada às cinco da tarde.
Um livro intrigante que além da personagem principal ter um comportamento absurdo, temos a certeza de que a sua principal característica é a lucidez implacável.
Boa leitura…

domingo, 14 de agosto de 2011

O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua - Manuel Alegre

"Mas ainda falta acrescentar que o miúdo que tocava piano sobre a mesa viu Miguel Torga no hospital segurando o caderno e a caneta como quem, no campo de batalha, ferido de morte, não larga as suas armas. Eram já poucas as forças, mas a mão mantinha-se firme na caneta e no caderno."

Sugestão de leitura sobre O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2010/07/manuel-alegre-o-miudo-que-pregava.html

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Álbum de Familia - Penelope Lively

"Quando um desastre surge, por todo o mundo, são as crianças que estão na linha da frente, que guarnecem a história, que a câmara filma, que permanecerão depois na cabeça de Gina - caladas, de olhos arregalados e pernas magras e barriga inchadas, ulceradas, deformadas, com um toco em lugar da mão ou da perna. Ele confronta estas crianças porque é a sua função, é por elas que ela lá está, o mundo tem de saber da existência delas. Ela envia-as para milhões de casas confortáveis, para lançar o mal-estar."

Sugestão de leitura sobre Álbum de Familia de Penelope Lively:

domingo, 7 de agosto de 2011

Gonçalo M. Tavares - Aprender a Rezar na Era da Técnica

Quando se olha para o currículo de Gonçalo M. Tavares não parece que estamos perante um escritor que conta apenas com quarenta primaveras. Já venceu o Prémio LER/Millennium bcp assim como o Prémio José Saramago. Em terras de Vera Cruz conquistou o Premio PT e este ano, venceu com Aprender a Rezar na Era da Técnica nada mais nada menos que o Prémio Médicis (prémio para melhor livro estrangeiro publicado em França). É apontado como um dos mais fortes candidatos entre os autores de língua portuguesa a conquistar o Nobel da Literatura.
Dividido em três partes; Força, Doença e Morte, a história conta a vida de Lenz Buchumann. Ele é um médico prestigiadíssimo e os seus pacientes nutrem por ele uma grande admiração contudo fora do consultório era uma pessoa bastante diferente, (“ O prazer que sentia em humilhar prostitutas, mulheres fracas ou adolescentes, pedintes que lhe batiam à porta ou a própria mulher, não podia ser mais antagónico com a aura que alguns familiares de doentes por si operados e salvos lhe colocavam em volta”). Após a morte do seu irmão, por quem não sentia grande simpatia, decide entrar no partido, ao entrar para a política entra para o “mundo dos grandes acontecimentos e das grandes doenças”, dois messe depois descobre que “já era conhecido por mais pessoas do que antes fora em mais de quinze anos na função de médico”. Aos poucos, torna-se num dos homens mais importantes da cidade, chegando a exercer a função de vice-presidente do partido. Só que uma grave doença acaba com todos os seus projectos.
Desde os tempos remotos da infância onde o pai o obrigava a ir para a cama com uma empregada, até ao tempo em que era medico e que para dar comida a um pedinte o obrigava a ver a fazer sexo com a sua mulher, aos tempos do partido onde via o mundo de um ponto de vista mais alto, chegando mesmo a executar atentados para poder ganhar eleições, ou até ao tempo da sua decadência em que não tinha nenhum poder de decisão, somos sempre confrontados com outras histórias que são tão ou mais importantes que a principal. Quanto a mim este é um livro que no que diz respeito à qualidade está ao nível do Memorial do Convento de Saramago.
            Boa Leitura…

terça-feira, 2 de agosto de 2011

José Saramago - Cadernos de Lanzarote

"Não foram poucas as vezes, no tempo da adolescência, que ocupei um envergonhado lugar na fila de aspirante à sopa e ao quato de pão que se serviam naquele atarracado e soturno edifício fronteiro à igreja dos Anjos."

Sugestões sobre livros de Saramago:
O Evangelho Segundo Jesus Cristo:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2011/06/o-evangelho-segundo-jesus-cristo-jose.html
A Viagem do Elefante:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2009/01/aviagem-do-elefante-jose-saramago.html