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domingo, 30 de dezembro de 2012

Paul Auster em Invisível

     " Parece de facto um nome sólido, repliquei, mas, na América, nada é sólido. O apelido «Walker» foi dado ao meu avô quando desembarcou em Ellis Island em 1900. Pelos vistos, os funcionários da imigração viram-se gregos para pronunciar Walshinksky,de modo que resolveram rebaptizá-lo, transformando Walshinksky em Walker.
   Que país este, disse Born. De uma penada funcionários iletrados despojam um homem da sua identidade. 
      Da identidade, não, disse eu. Apenas do nome."

Mais citações e sugestão de leitura de Invisível de Paul Auster:

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Monteiro Lobato - Negrinha

     
     Uma das grandes vantagens dos blogs é podermos partilhar opiniões. A deise do blog meneleubiblioteca falo-me sobre Negrinha de Monteiro Lobato (1882-1948), grande escritor brasileiro que eu não conhecia. Segunda ela, o autor está a ser acusado da sua obra ser racista. Pois bem, este foi o único trabalho que li de Monteiro Lobato, por isso o meu comentário é apenas deste conto e não de toda a obra do escritor, mas na minha modesta opinião quem escreve um conto como este é tudo menos racista. 
     Parti do pressuposto que esta obra era recente – um livro com 20 anos é recente – por isso, vi neste conto um género de alegoria, pois acredito que casos destes já devem ser raros, para não dizer nulos. Bom estava enganado, a obra foi publicada em 1920. Nessa altura os maus tratos a crianças não deviam ser assim tão raros, se fossem negras o caso ainda seria pior. Dizem que Monteiro Lobato era racista? Alguém que o afirma, além de não ter lido bem a obra, também não pode conhecer o contexto histórico da altura. Então vejam: 
    Encontramos um escritor preocupado com os maus tratos às crianças (Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na agua a ferva…Seus olhos contentes envolviam a miséria da criança que, encolhida a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou ao ponto a boa senhora chamou: - Venha cá – Negrinha aproximou-se – Abra a boca – Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo a zás! Na boca da pequena) preocupado com o racismo (“essa indecência de negro igual a branco”), preocupado com a “caridadezinha” de muitos (“Não se pode ser boa nesta vida…Estou criando aquela pobre órfã, filha de Cesário, mas que trabalheira me dá!”), preocupado com uma Igreja que no purgatório tudo perdoa aos ricos (“Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos pobres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu”), também é destacado a capacidade que os mais oprimidos têm em perdoar. 
     Tal como outros grandes escritores como Doris Lessing ou Hertha Muller, a história é levado ao extremo e consequentemente os efeitos também. O leitor conhecera outras histórias, talvez menos graves, menos chocantes, mas também elas capazes de provocar o sofrimento, a dor ou a angústia. Um conto dura, muito duro, onde crueldade humana é demonstrada mas também fica provado que existe seres humanos preocupados com essas atrocidades.
    Boa leitura....

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A parte ridícula do natal



- Pai, olha a prenda que recebi!
- Já vejo,  estou a responder a uma mensagem de um cliente

- Filho o que queres comer.
- Mãe ainda não acabei de fazer todos os telefonemas, daqui a uma hora janto.

-Vens brincar comigo.
-Ainda falta enviar as boas festas a oitenta pessoas, já vou.


Nunca percebi como é que certas pessoas passam a noite de natal agarrados ao telemóvel, a responder a mensagens ou a fazerem telefonemas, quando na maioria das vezes as mensagens de boas festas são dadas a amigos de ocasião e de circunstância, amigos deste ano e não para uma vida. 
Não brincar com os filhos; não dão atenção aos pais e as avós; quase não falam com a sobrinha que foi passar o natal lá a casa; tudo para responder e dar a boas festas a todos...Estranho natal vivem essas famílias.

Feliz Natal ....

domingo, 23 de dezembro de 2012

Pearl S. Buck em Há Sempre Um Amanhã


"Que som abafado fora aquele? A mãe soluçava? Apoderou-se dela um momento de pânico, o pânico de uma criança que vê um adulto chorar e sente o coração apertado, aflito, porque se os adultos também choram ninguém está ao abrigo do sofrimento."

Excerto da página 10

domingo, 9 de dezembro de 2012

Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago


            
           Saramago disse muitas vezes que não escrevia para pessoas conformadas ou satisfeitas; escrevia para leitores desassossegados. A sua escrita pretendia desassossegar. Ensaio sobre a Lucidez é mais um exemplo disso. Decorria o ano de 2004, Saramago, vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 1998 já era uma figura mundialmente aclamada, tinha 82 anos, quem pensava que o Nobel e a idade levariam o autor ao conformismo, enganou-se! Saramago publicava mais um livro que desagrada às tais pessoas conformadas e satisfeitas. Desta vez, políticos e cidadãos eram responsabilizados pelo estado a que a democracia chegou.
                “Vi que eram quatro horas e disse para a família Vamos, é agora ou nunca.”
                Na mesma cidade onde há uns anos uma estranha doença designada Cegueira Branca tinha-se instalado, decorria um ato eleitoral. A cidade era conhecida por ter uma democracia consolidada. Estranhamente, mesmo tento em conta as condições climatéricas adversas, eram muito poucos os votantes até às três da tarde. Sem uma razão aparente, a partir das quatro horas da tarde a população dirigiu-se massivamente as mesas de voto, já passava da meia-noite quando o ato eleitoral acabou.
                “Os votos validos não chegavam a vinte e cinco porcento, distribuídos pelo partido de direita, treze por cento, pelo partido do meio, nove por cento, e pelo partido de esquerda, dois e meio porcento. Pouquíssimos votos nulos, pouquíssimas as abstenções. Todos os outros, mais de setenta por cento da totalidade, estavam em branco.”
                O estado de sítio foi declarado; os políticos não percebiam o que estava acontecer e temiam que outras cidades se inspirarem no que ali se passava; a censura voltou a ser utilizada; houve quem propusesse a construção de um muro em torno da cidade. Governo, polícia e militares abandonaram a cidade, mas estranhamente nada de novo se passava, as pessoas continuavam com a sua vida, normalmente. Porquê? Como era possível? Simplesmente os habitantes tinham tido a lucidez e a consciência da sua responsabilidade.
                “O único crime desta gente foi votar em branco, não teria importância de maior tivessem sido só os do costume, mas foram muitos, foram demasiados, foram quase todos.”
                Não basta culparmos os banqueiros, os políticos, ou os economistas pelo atual estado da nação. Não tivemos consciência, não dissemos Não, vivemos sem a lucidez destes habitantes e chegámos há situação atual. Culpados, nós? Sim, pela inércia, pela falta de consciência, porque deixámos que tudo fizessem sem nada opormos.
                Numa altura em que se comemora os noventa anos do nascimento de José Saramago, está é, pelas piores razões, uma obra mais atual do que há data da sua publicação.
                Boa leitura….