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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Sentido do Fim - Julian Barnes



Com “O Sentido do Fim”, Julian Barnes conseguiu um feito que só está ao alcance dos grandes escritores, vencer o Man Booker Prize de 2011, prémio por muitos considerado como o segundo galardão mais importante da literatura mundial.
“Sobre aquilo de que não sabemos falar devemos guardar silêncio.”
É já na idade da reforma que Tony vesse obrigado a recordar todo o seu passado. Uma carta de uma solicitadora com o testamento de Adrian Finn, seu amigo de liceu e mais tarde namorado de uma ex-namorada sua, Verónica, leva-o a percorrer as suas memórias. Assim que soube do namoro entre Adrian e Verónica, Tony tinha cortado relações com o casal e desde então não mais tinha tido notícias deles.
“Camus disse que o suicídio era a única questão filosófica verdadeira”
Adrian era o mais inteligente do seu grupo de amigos, era aquele que tinha o futuro mais promissor, só que, sem razão aparente, comete o suicídio ainda na flor da idade. Será que ao optar pelo suicídio escolhe a via mais simples? Será que cometeu um ato filosófico? Ou será que a situação que vivia era bem mais complexa do que aquilo que aparentemente demonstrava?
“Era capaz de jurar solenemente que, se havia mente que nunca perderia o equilíbrio, era a de Adrian. Mas aos olhos da lei, se nos matássemos, eramos loucos por definição pelo menos no momento em que cometíamos o ato”
A solidão, o arrependimento pelo odio que sentimos num determinado momento, as mentiras que se contam sobre o sexo, as promessas de amizade eterna que se faz na adolescência e que mais tarde não se cumprem, os amigos e familiares que se contactam só por e-mail ou a imperfeição da nossa memoria são alguns dos outros temas abordados pelo autor.
“O que acabamos por recordar nem sempre é igual ao que presenciámos.”
Com este livro, Julian Barnes demostra que um pequeno livro pode ser uma grande obra.
Boa leitura…  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jorge Amado faria hoje 100 anos


Jorge Amado faria hoje 100 anos.


"Inventor do Brasil moderno. Campeão da mestiçagem. Pregador do sincretismo. Retratista de um país colorido e multirracial, mas também desigual, machista e violento. Cabem muitas descrições à obra de Jorge Amado e elas podem ir da qualidade literária à representação social de uma nação que começava a se descobrir."

Fonte: Correiobraziliense

Capitães da Areia foi um dos melhores livros que li até hoje, deixo aqui o link com a sugestão de leitura da obra:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/Jorge%20Amado

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

José Rodrigues dos Santos em O Anjo Branco

   
   Foi assim na Expo 40, realizada em Lisboa:

   Desembocaram por fim no grande Pavilhão de Angola e Moçambique, protegido por dois hipopótamos que ladeavam a escadaria. Ao fundo viam-se umas palhotas e uma multidão curiosa formigava em torno delas.
   Aproximaram-se do local e logo o capitão exclamou:
   "Estão a ver?Estão a ver' Eu não dizia?"
   Amália e Joana abriram a boca de espanto quando espreitaram entre os ombros e as cabeças das pessoas  que se acotovelavam em frente, e o mesmo aconteceu com a criada e as crianças.
   "Credo!", exclama Joana, horrorizada. "Ai Jesus!"
   "Ora esta!", concordou a irmã. "Realmente, se eu não visse não acreditava!"
   António, o mais velho dos filhos, lançou ao capitão um olhar receoso.
   "O pai, eles comem a gente?"
   "Não, que disparate!"
   "Comem comem!" insistiu Lourdes. "Comem que eu sei!"
   "Não comem nada."
   E ali ficaram todos, embasbacados, num misto de repulsa e fascínio, a a contemplar o espetáculo que se desenrolava diante deles, a mirar aquela extraordinária atração: Um homem de tronco nu e tanga e pele escura como carvão, os cabelos encaracolados e o olhar enfastiado, sentado diante da palhota como se estivesse encarcerado numa jaula.

Excerto da pagina 54

Mais sugestões e citações sobre O Anjo Branco:
http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/Jos%C3%A9%20Rodrigues%20dos%20Santos

sábado, 4 de agosto de 2012

A Caixa Negra - Amos Oz


Em 1987, o agora prestigiado autor israelita Amos Oz, escrevia A Caixa Negra. No ano seguinte a obra ganhou o prestigiado “Prémio Femina”. Seria o primeiro dos vários galardões conquistados pelo autor ao longo da sua carreira. O livro foi reeditado recentemente em Portugal. Além de escritor, Oz é professor de literatura na Universidade Ben-Gurion e dedica-se à militância a favor da paz entre palestinianos e israelitas.
“Não cuides que vim trazer a paz ao mundo; não vim para trazer a paz mas a espada.”
O livro conta a história do divórcio de Ilana e Alex e sendo este livro a “caixa negra” de um complicado divorcio, sentimentos como o ódio, o desespero, o desgosto, a culpa, o arrependimento, a inveja, o receio, o medo ou o ciúme estão presentes ao longo de toda a obra. Boaz, filho de ambos, começa a ter comportamentos de indisciplina. Desesperada, Ilana pede ajuda ao seu ex-marido, reatando dessa forma a ligação. Ilana é agora casado com Michel, que mais tarde vem a ser um fanático religioso.
“Nós somos o Povo do Livro, Boaz, e um judeu sem a Torah é pior do que um animal dos campos”
Quando se dá um divórcio muitas vezes as posições extremam-se, esses extremismos levam ao fanatismo. A causa Israelo-Palestiniana  é um longo e duríssimo divórcio entre dois povos, com religiões diferentes e quase sempre com posições antagónicas  o entendimento mostra-se quase impossível. Alex, consagrado escritor de livros contra o fanatismo, é o próprio a praticar a violência domestica e a humilhar tudo e todos. Não basta ter um bonito discurso é preciso passar aos atos. A causa Israelo-Palestiniana e a culpa de ambos os lados torna-se assim no principal tema deste livro. Tal como no divórcio entre Ilana e Alex, a falta de compreensão e de tolerância leva a que ambos se odeiem. Quantas caixas negras seriam precisas para registar tudo o que tem acontecido ao longo dos anos entre Israelitas e Palestinianos.
“Para tentar responder a esta pergunta, transcrevo-te a seguir os dez mandamentos do teu filho, fora da ordem mas respeitando a maneira de falar dele. I. Ter pena deles todos. II. Reparar mais nas estrelas. III. Ser contra estar zangado. IV. Ser contra fazer troça. V. Ser contra o ódio. VI. Os filhas da mãe também são seres humanos, não são merda. VII. Ser contra a violência. VIII. Ser contra matar. IX. Não nos comermos uns aos outros. X. Calma.”
Boa leitura…