Cadernos de Lanzarote, Diário II, foi escrito há 18 anos. Todos os dias José Saramago escrevia nesse seu caderno. A pergunta que se coloca é inevitável: Será proveitoso ler um diário escrito no ano de 1994? Infelizmente o mundo não mudou tanto assim deste então, razão pela qual este diário ainda é bastante atual.
Muitos amigos de Saramago são mencionados: Jorge Amado; Siza Viera; José Rodrigues Migueis; Eduardo Lourenço; Mário Soares, mas também fala de pessoas que não gosta como Cavaco Silva; Mario Vargas Llossa; ou António Lobo Antunes.
O Nobel que chegaria em 1998 já era tema de algumas crónicas. Deus, também ocupou várias páginas. Com uma humildade extrema, revela que muitas vezes teve na fila da sopa dos pobres, também dá a conhecer que estava previsto ser preso pela PIDE a 29 de Abril de 1974.
Sobre os seus livros garante que o Memorial do Convento “já está na História de Portugal”. Também publica um excerto de uma crítica ao Memorial, onde Ângela Caires afirma: “Para não falar do flop total de outra tentativa, Memorial do Convento, de que seguramente ninguém guarda memória.” O Evangelho também é abordado, e nesse ano escrevia o Ensaio Sobre a Cegueira.
O seu ceticismo perante as atitudes dos seres humanos é bem patente ao longo de todo o diário, entre outras coisas, fala sobre o holocausto e do medo que possa um dia voltar, critica a política de Fidel Castro além de manifestar apoio ao regime. Sobre a europa prevê que um dia será comandada pela Alemanha, relativamente a Portugal, afirma que os nossos maiores inimigos somos nós mesmos.
O reconhecimento pelo seu trabalho chegava dos mais diversos recantos do mundo, o que o levou a afirmar que razão tinha quem dizia que ninguém é profeta na sua terra.
Muitas mais coisas são abordadas neste diário, o melhor é mesmo lê-lo, eu já comecei a ler outro, o diário I.