Parti do pressuposto que esta obra era recente – um livro com 20 anos é recente – por isso, vi neste conto um género de alegoria, pois acredito que casos destes já devem ser raros, para não dizer nulos. Bom estava enganado, a obra foi publicada em 1920. Nessa altura os maus tratos a crianças não deviam ser assim tão raros, se fossem negras o caso ainda seria pior. Dizem que Monteiro Lobato era racista? Alguém que o afirma, além de não ter lido bem a obra, também não pode conhecer o contexto histórico da altura. Então vejam:
Encontramos um escritor preocupado com os maus tratos às crianças (Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na agua a ferva…Seus olhos contentes envolviam a miséria da criança que, encolhida a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou ao ponto a boa senhora chamou: - Venha cá – Negrinha aproximou-se – Abra a boca – Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo a zás! Na boca da pequena) preocupado com o racismo (“essa indecência de negro igual a branco”), preocupado com a “caridadezinha” de muitos (“Não se pode ser boa nesta vida…Estou criando aquela pobre órfã, filha de Cesário, mas que trabalheira me dá!”), preocupado com uma Igreja que no purgatório tudo perdoa aos ricos (“Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos pobres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu”), também é destacado a capacidade que os mais oprimidos têm em perdoar.
Tal como outros grandes escritores como Doris Lessing ou Hertha Muller, a história é levado ao extremo e consequentemente os efeitos também. O leitor conhecera outras histórias, talvez menos graves, menos chocantes, mas também elas capazes de provocar o sofrimento, a dor ou a angústia. Um conto dura, muito duro, onde crueldade humana é demonstrada mas também fica provado que existe seres humanos preocupados com essas atrocidades.
Boa leitura....
Não conheço o autor ou o livro, mas gostaria de ler... :)
ResponderEliminarOlá Teté,
ResponderEliminarEste conto é muito pequeno, tem apenas quatro páginas. Se me der o seu mail eu posso enviá-lo. A deise fez o mesmo comigo. As novas tecnologias também têm coisas boas ;-)
4 páginas?!
ResponderEliminaré um micro-conto então.
Parece que em Portugal não há nenhum livro do autor publicado.
Olá Miguel,
EliminarSim, é um conto muito pequeno, mas de uma enorme qualidade.
Existe um livro muito famoso deste autor, O Sitio do Picapau Amarelo. Já não é da minha geração, mas por aquilo que ouvi comentar chegou a passar uns desenhos animados inspirados no livro na RTP. Na altura obteve bastante sucesso.
A FNAC tem alguns livros do autor a venda, mas o prazo de entrega é de 1 a 2 semanas.
Li um livro dele que era da minha mãe. Passava-se no Sítio do Picapau Amarelo e tinham descoberto petróleo. Como já o li há muitos anos, já esqueci quase tudo, mas vou tentar encontrá-lo.
ResponderEliminarSerá que também poderia enviar para mim o conto?
escritaredonda@gmail.com
Olá redonda,
EliminarAcabei mesmo agora de enviar o conto, espero que goste. Depois trocamos opiniões.
Boa leitura.
Olá Tiago!
ResponderEliminarQuanta repercussão nossa troca de opiniões. Muito obrigada mesmo por divulgar entre seus leitores nosso valoroso Monteiro Lobato. Espero que todos apreciem sua leitura e nos ajudem a combater a injustiça que sua obra vem sofrendo aqui no Brasil. Um grande abraço e que 2013 traga muito sucesso e realizações a você!
Olá deise,
EliminarEu é que tenho que agradecer o facto de me ter permitido conhecer um autor como Monteiro Lobato, sem a sua ajuda provavelmente nunca leria este escritor.
Também espero que em 2013 todo corre como espera.
Obrigada por me ter enviado o conto. Gostei muito de o ler. Enterneceu-me a história da negrinha, queria ter podido salvá-la. Porventura mais do que qualquer texto sério, fez-me sentir a indignação pela falsa virtuosa senhora e a injustiça com que era tratada a menina.
ResponderEliminarOlá Redonda,
ResponderEliminarÉ um conto muito pequeno, mas com muito conteúdo.
Se for levado à letra, talvez possamos dizer que este conto é racista, mas é preciso não ter sensibilidade, ou melhor, não ter nenhuma sensibilidade, para não perceber que a intensão do autor é alertar para os maus tratos que as crianças negras eram submetidas.
Oi Tiago
ResponderEliminarSó li até hoje os livros infantis do Monteiro Lobato, que são mais famosos aqui no Brasil. Mas sabia que ele também tinha livros adultos, e vou procurar este para ler.
Abraços,
Gisela
@lerparadivertir
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